Bruna Marquezine foi criticada pelo Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP), após usar uma fantasia de “enfermeira sexy” no Halloween. Segundo o grupo, que falou sobre machismo e desigualdade de gênero, “fantasias de enfermeira desvalorizam o profissionalismo da enfermagem”.
A polêmica, é claro, dividiu opiniões nas redes sociais. Algumas pessoas concordam com o conselho. Outras acreditam que houve exagero e perseguição com Bruna Marquezine. A atriz ainda não se manifestou publicamente, mas já apagou as fotos em que aparece com o look.
Vale lembrar que Bruna não é a primeira famosa a ser criticada pelo uso da fantasia. Em 2019, Giovanna Ewbank e Ingrid Guimarães apareceram com fantasias eróticas de enfermeiras para falar sobre vibradores usando como pano de fundo o filme “De Pernas Pro Ar 3”.
Na ocasião, a enfermeira Renata Pietro fez uma carta aberta para as artistas, explicando o motivo pelo qual se sentiu ofendida com as fantasias. Para se desculpar, Giovanna e Ingrid entrevistaram a profissional no YouTube e disseram que entenderam suas justificativas.
Veja a carta aberta da enfermeira
Olá, Giovanna e Ingrid.
Sou Renata Pietro, enfermeira, presidente do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP). Acabei de assistir ao vídeo no qual vocês estão fantasiadas de enfermeiras e discutindo, entre outros assuntos, artigos eróticos. Tenho mais de 20 anos de profissão e desde que comecei meus estudos, e mesmo antes deles, a minha profissão, a enfermagem, é estigmatizada por uma forte carga sexual, que não tem qualquer relação com as nossas atribuições diárias.
Abordagens como essa são um empecilho para a nossa luta em busca de reconhecimento. Estamos a 15 dias do início do mês da Enfermagem, um período em que o Coren-SP desenvolve campanhas de valorização da categoria, inclusive com a participação voluntária de muitos artistas e influenciadores, e nos deparar com uma referência dessas à profissão mostra que ainda temos um longo caminho a ser percorrido, no sentido de quebrar paradigmas e mudar uma cultura há décadas arraigada em nossa sociedade.
Felizmente há iniciativas nacionais e internacionais que vieram para mostrar que não estamos sozinhas. A campanha “Nursing Now”, idealizada pela Organização Mundial da Saúde, traz a duquesa de Cambridge, Kate Middleton, e a atriz Emilia Clarke (de “Game of Thrones”), como suas embaixadoras. É um alento e uma grande motivação saber, enquanto profissional de enfermagem, que não estamos remando sozinhos. E esta mensagem é para chamar vocês, grandes atrizes e mulheres brasileiras, a compartilharem conosco essa jornada, pelo empoderamento feminino e pela sororidade.
A enfermagem é a categoria da saúde que passa 24 horas por dia ao lado dos pacientes. Atuamos em todas as fases da vida das pessoas, desde o nascimento, passando pelos cuidados preventivos, paliativos, até os momentos mais difíceis. Trabalhamos com indivíduos de todos os gêneros, idades e classes sociais, na saúde pública ou privada.
No país, a enfermagem corresponde a 80% da força de trabalho da área da saúde. E no estado de São Paulo, sou uma em um universo de cerca de 450 mil mulheres que integram a profissão. Nós, mulheres, correspondemos a cerca de 86% de todos os profissionais de enfermagem do estado.
No vídeo de vocês, o uso de termos como “vestida desse jeito” e “ela não só veio vestida de enfermeira como também trouxe brinquedos” reduz a profissão a uma mera fantasia sexual. A enfermagem é uma profissão que depreende anos de estudo e aperfeiçoamento. Sua classificação fantasiosa é apenas mais um exemplo de um machismo estrutural que reduz o trabalho feminino a questões sexuais. Não são poucos também, por exemplo, os casos de feminicídio praticados contra profissionais de enfermagem, o que só demonstra o tamanho da luta que temos para além de nossa rotina de trabalho.
Em uma breve busca de imagens no Google, vocês podem ver que o resultado para “enfermeira” é bem diferente do para “enfermeiro”. Precisamos mudar a visão de que mulheres profissionais de enfermagem (que também são auxiliares e técnicas, além de enfermeiras), assim como secretárias, professoras e outras, sempre sejam lembradas com uma carga erótica que não condiz com o seu real trabalho. Imagino que vocês também se sentiriam incomodadas e pouco representadas com qualquer imagem que pudesse distorcer a profissão de vocês. Como figuras públicas, formadoras de opinião e principalmente, mulheres, peço que não se refiram mais a qualquer trabalhadora como um fetiche.
Vamos, juntas, permanecer em ação para que a força de trabalho feminina não seja restringida ao erotismo. Vamos, juntas, lutar cada vez mais pela valorização da mulher.
Um abraço,
Renata
Fonte: Yahoo